domingo, 25 de janeiro de 2015

na esperança de

Os anos foram passando e o sorriso inocente virou peça de teatro. Aquela criança ingénua que achou que um dia podia ser tudo, sumiu.

Adoptei uma postura fechada. Vedei o meu lar, para evitar possíveis intrusos. Para a minha festa melancólica ninguém está convidado.  
Vivo na luz da expectativa e na escuridão da desgraça. 
Vivo rodeada de inimigas que adoptam uma postura inútil e manipuladora, assumindo o meu nome. Sussurram-me segredos mascarados de conselhos e disfarçados de bondade. Acariciam-me os meus cabelos, curtos e crespos, com garras afiadas. Olham-me com um piscar rítmico entre a humilhação e o desprezo. Tapam-me os olhos e atam-me as mãos.
Sinto-me cansada e miserável. E o cansaço da miséria tornou-se miseravelmente cansativo.
Rendi-me à dificuldade e guardei a motivação debaixo da cama. Para que pudesse descansar a penúria. Adormecer no vazio e afundar-me na náusea desta maré incerta e imprevisível.
Afundo, mas não me afogo. Aprendi a nadar contra marés negras em busca de um mar de rosas. Não carrego mapas nem me apodero de bússolas. 
E divido-me. A sereia inocente virou cardume esfomeado de sabedoria e esperança.
Luto contra um monstro desnaturado chamado "EU". 


Sinto-me inútil, incapaz. 
Vivo numa mudança constante entre uma estabilidade a preto e branco à moda antiga e um entusiasmo florescente que roça a moda actual.
As cores passam como turistas num país distante chamado "mente". Onde tudo se passa, tudo acontece. Onde nada se esclarece, nada falece. 

Os que me ajudam, ou tentam salvar? Vejo-os como ameaças. Tudo o que oiço daquelas bocas soam-me a críticas infelizes. E penso, afinal, o que e que sou capaz e fazer? 
Não sei quem sou. Não sei o que quero ser. E continuo, a festejar sozinha, o meu futuro incerto. 
Há que levantar a palavra e não o tom de voz. É a chuva que faz crescer flores, não os trovões.
O meu jardim está miserável. Sinto-me uma jardineira desmotivada. Pois tudo murcha, por mais belo que seja.
Não preciso que me pisem as sementes ou que cuspam para cima delas. Preciso de um espírito amigo, incentivador, que me agarre as mãos nervosas ao pegar no regador.
Preciso de muita paz. Muita compreensão para aquilo que nem eu sou capaz de explicar. 
Já bati com a cabeça na parede, depois de andar a jogar sozinha ao quarto escuro. Não preciso que me ditem as regras. Já perdi o jogo. Já percebi como devo jogar para ganhar. Só peço que esta claque chamada família e amigos me apoie. Continue a berrar o meu nome. A bater palmas e a tocarem os tambores. 
Não deixe de ser o meu treinador. Não me exclua da equipa nem me ponha nas bancadas. A esperança é a última a morrer. E eu já vesti o equipamento. 




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