quinta-feira, 8 de maio de 2014

Meu querido Pai,

Dois corpos. Duas almas. Dois amores. Duas vidas. 
Um casal. Um casal com duas filhas.
Eu? Sou apenas um fruto pequenino de uma árvore tão grande.
Nós? Somos uma família. Passam ventos e tempestades, mas as raízes permanecem firmes no chão e os ramos prontos para uma nova vegetação.
Um dia vou amadurecer. Mas agora, vou agradecer. 
A minha sorte. A minha educação. A minha experiência. A minha tradição.
O meu jovem e inocente percurso! Muito viajei, muito ri, muito festejei. Mas tenho ainda tanto para aprender...
Espero perder-me. Nestes caminhos escuros, nestas curvas inesperadas. Espero procurar e descobrir aquilo que desejo inconscientemente seguir. Mas agora, basta sentir.
Vou continuar a ser regada. Com palavras sinceras e preocupadas. Com gestos afectuosos e calorosos. Com um exemplo de esforço e motivação que nunca sairá do meu coração!
Serão sempre relembrados os gritos. Berraremos a nossa existência! E se nos chamarem de loucos... Somos loucos mas poucos.
Há quem tenha fé. Há quem tenha sucesso. Há quem tenha mil e um planos na cabeça para um dia chegar a ter alguma coisa.

Eu tenho um Pai, e isso chega.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Vitória, vitória, acabou-se a história?

Não faço ideia por onde começar. O problema está na procura constante de recomeços e na fuga da continuidade. Por isso vou tentar empregar muitas vírgulas neste texto, que te prometi e, que tanto esperaste. 
Não escrevo com o coração apaixonado nem com os olhos deslumbrados, mas com a cabeça descansada e consciência desenxovalhada.
Escrevo porque gosto de escrever. Escrevo-te porque gostas do que escrevo.
Vivo numa mudança constante entre uma melancolia a preto e branco à moda antiga e um entusiasmo florescente que roça a moda actual. As cores passam como turistas num país distante chamado "mente". Onde tudo se passa, tudo acontece. Onde nada se esclarece, nada falece. 
Vivo na luz da expectativa e na escuridão da desgraça. 
Vivo rodeada de inimigas que adoptam uma postura inútil e manipuladora, assumindo o meu nome. Sussurram-me segredos mascarados de conselhos e disfarçados de bondade.
Acariciam-me os meus cabelos, curtos e crespos, com garras afiadas. Olham-me com um piscar rítmico entre a humilhação e o desprezo. 
Elas tapam-me os olhos e atam-me as mãos.
Sinto-me cansada e miserável. E o cansaço da miséria tornou-se miseravelmente cansativo.
Rendi-me à dificuldade e guardei a motivação debaixo da cama. Para que pudesse descansar a penúria. Adormecer no vazio e afundar-me na náusea desta maré incerta e imprevisível.
Afundo, mas não me afogo. Aprendi a nadar contra marés negras em busca de um mar de rosas. Não carrego mapas nem me apodero de bússolas. 
E divido-me. A sereia inocente virou cardume esfomeado de sabedoria e esperança.
Luto contra um monstro desnaturado chamado "EU". 
Insisto e não desisto. 
E venço. 
Venço porque me ajudas-te a vencer. Venço porque me acordas-te do sono pesado e do sonho desmotivado. Venço porque acrescentaste o cinzento na visão a preto e branco. Venço porque a tua mensagem foi nítida, clara e profunda como aquele lago que me falas-te. 




segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Só porque sim.

Hoje escrevo. Não me perguntem porquê. Parem de perguntar aquilo que faço, e porque faço!
Hoje escrevo, só porque sim. 

Guardei a paciência num baú. Porque esta está velha.
Guardei a minha experiência. Memórias. Recordações. 
Sinto-me antiquada, com tantos pensamentos fora de prazo. 
Na vida tudo dura. Mas nem sempre perdura.
Aquilo que digo hoje não tem que ser aquilo que digo amanhã.
Porque aquilo que digo vem de mim. E eu mudo. 

Se é "loucura" que tratam a "mudança", deixem-me enlouquecer. 
Se é "lucidez" que tratam a "estabilidade", deixem-se desequilibrar. 
Uma vida plana não é plena. 
Pequenos grandes pensadores... Oh pensadores... Não me venham com filosofias baratas! 
Pensar é imaginar. E se não imaginam, não criam.
Dizem e fazem, só porque há quem diga e quem faça.
Isso não é criação, é imitação. Não é produção, é reprodução. 

Deixem-me acender a luz. Não me obriguem a entrar na gruta que vos acolhe nos momentos reais da vida. Não me peçam para viver na vossa ilusão confortável. Pois esse vosso conforto... incomoda-me!
Deixem-me despir a esperança. Deixem-me acordar dos sonhos, para poder realiza-los.
"Quem espera sempre alcança"? Quem espera desespera. E eu estou à beira do desespero.

Hoje faço. Hoje faço, só porque sim.
Deixem-me seguir instintos. Os meus instintos.
Deixem-me ser irracional como vocês, e nem se atrevam a levar-me a julgamento! 
 
Grandes pequenas teorias sobre a vida... Oh vida... Não me venhas com gente medíocre.
Quero ser eu à minha maneira, não à maneira que os outros querem que eu seja.  
Não posso esperar. O tempo não para e a minha cabeça tem pressa. 
Planear? O que é que eu sei sobre os planos? 
Tanto para aprender. Tanto para ensinar. Talvez o melhor seja improvisar.
Deixem-me despir a inutilidade de tanta interrogação. 
Deixem-me ser como sou, só porque sim.  







sábado, 18 de janeiro de 2014

Mentes criminosas

Deitada numa cama, de olhos fechados e consciência aberta. A noite passada foi dura. 
Bombardeamentos invadiram-me o quarto. Eram uns atrás dos outros. E eu, com uma capacidade tão fraca, como sempre, para os enfrentar. Eram atitudes despropositadas. Olhares descabidos. Bocas desavergonhadas. Que entraram disparadas e partiram as janelas do meu quarto. Sentia-me isolada. Desprotegida, enquanto a saturação cobria o susto. 
Fui pedir socorro, mas faltava-me a voz. Faltava-me a coragem para gritar e por isso decidi esconder-me, mais uma vez. 
Cobri-me com os lençóis. Estavam sujos e frios. Tentei colocar-me numa posição confortável, mas demorei algum tempo a conseguir. Até que adormeci, apesar de todo o caos que me rodeava. 
Acordei. Acordei com a tenção baixa. A enfermeira perguntou-me se estava bem e a que horas tinha chegado a casa. Disse para não se preocupar, que tinha chegado cedo. E eu, com um incentivo tão pequeno, como sempre, para me levantar. Não queria que me abrissem os estores. Nem que me trouxessem o pequeno almoço à cama. Queria apenas que me deixassem acordar, sozinha. 
Não queria perguntar pelo médico, mas tinha um remédio. Tinha-me a mim e à minha cabeça. Fiquei ali, a remoer soluções enquanto vasculhava na farmácia as estantes mais altas. Tive que subir num pequeno escadote. E cheguei lá. Estava no topo do topo, um frasquinho que dizia "Para levantar" e traduzia "Sobrevivência". Agarrei-o rapidamente e, engoli o xarope sem hesitar. Sem fazer uma única careta. Já me bastam os palhaços que me aterrorizaram o sonho. 
Lutei contra o edredão pesado que me cobria o corpo e abri os olhos. E eu, com um receio tão grande, como sempre, de que o remédio não fizesse efeito. Ou que não tivesse tomado a dose certa. Enfim... Não suspirei. Afinal... de que valia a pena lamentar?  
Estava na hora de reparar os estragos. Organizá-los, arrumá-los em gavetas. Limpar a poeira, presente em toda a parte. 
E eu, com um cansaço enorme, como sempre, de trabalhar ao fim de semana. 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Ainda em processo

Aqui estou eu, de cabeça quente e dedos enferrujados.  Numa tentativa de desabafo desesperado com o coração apertado.
Quando num dia temos o quase tudo, e no outro o quase nada.
Quando nos sentimos cheios de pouco e ficamos vazios de tanto...
De nada adianta ignorar a questão. 

Pensamos. Supomos. Repensamos. Questionamos? Optamos.
Parece fácil. Até se tornar num ciclo que cai numa rotina constante.
Porque depois de optar, voltamos a pensar, a supor, a repensar e a questionar. 

Feliz seria se chegasse a uma etapa que para além do ponto final, muda-se o parágrafo. 
Feliz seria, se não pensasse tanto.
Mas o verdadeiro feliz, é o completo ignorante.
H
oje escrevo aquilo que penso e questiono diariamente. Algo que ainda não consegui ignorar. Porque é que o conceito de aceitação é algo tão estranho, tão difícil? Tão distante? Há sempre quem aponte o dedo, independentemente do que se diga, faça ou pense. Não é algo típico desta sociedade em particular. Mas sim da sociedade em geral. Pois tudo o que é novo choca. E tudo o que choca... é mal visto.
Lutamos constantemente por ideias próprias, o que é importante. E muito bonito. Mas será que algum dia vamos vencer? Como é que vamos ser ouvidos e respeitados, se não ouvimos e respeitamos os outros? Talvez andemos a lutar com vendas nos olhos e espadas atrás das costas.
Estamos demasiado habituados a censurar o ordinário. A criticar o obsceno. A julgar o louco.

Feliz seria se conseguisse ignorar os loucos com ideias obscenas e ordinárias.
Feliz seria se todos o conseguíssemos fazer.
Mas o verdadeiro feliz, é quem o faz, sem querer saber.