Deitada numa cama, de olhos fechados e consciência aberta. A noite passada foi dura.
Bombardeamentos invadiram-me o quarto. Eram uns atrás dos outros. E eu, com uma capacidade tão fraca, como sempre, para os enfrentar. Eram atitudes despropositadas. Olhares descabidos. Bocas desavergonhadas. Que entraram disparadas e partiram as janelas do meu quarto. Sentia-me isolada. Desprotegida, enquanto a saturação cobria o susto.
Fui pedir socorro, mas faltava-me a voz. Faltava-me a coragem para gritar e por isso decidi esconder-me, mais uma vez.
Cobri-me com os lençóis. Estavam sujos e frios. Tentei colocar-me numa posição confortável, mas demorei algum tempo a conseguir. Até que adormeci, apesar de todo o caos que me rodeava.
Acordei. Acordei com a tenção baixa. A enfermeira perguntou-me se estava bem e a que horas tinha chegado a casa. Disse para não se preocupar, que tinha chegado cedo. E eu, com um incentivo tão pequeno, como sempre, para me levantar. Não queria que me abrissem os estores. Nem que me trouxessem o pequeno almoço à cama. Queria apenas que me deixassem acordar, sozinha.
Não queria perguntar pelo médico, mas tinha um remédio. Tinha-me a mim e à minha cabeça. Fiquei ali, a remoer soluções enquanto vasculhava na farmácia as estantes mais altas. Tive que subir num pequeno escadote. E cheguei lá. Estava no topo do topo, um frasquinho que dizia "Para levantar" e traduzia "Sobrevivência". Agarrei-o rapidamente e, engoli o xarope sem hesitar. Sem fazer uma única careta. Já me bastam os palhaços que me aterrorizaram o sonho.
Lutei contra o edredão pesado que me cobria o corpo e abri os olhos. E eu, com um receio tão grande, como sempre, de que o remédio não fizesse efeito. Ou que não tivesse tomado a dose certa. Enfim... Não suspirei. Afinal... de que valia a pena lamentar?
Estava na hora de reparar os estragos. Organizá-los, arrumá-los em gavetas. Limpar a poeira, presente em toda a parte.
E eu, com um cansaço enorme, como sempre, de trabalhar ao fim de semana.
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